domingo, 8 de janeiro de 2017

Com Cabral, o saque do Rio em 1711 ficou no chinelo

Um maníaco ficou intrigado com a cifra dos desvios atribuídos à rede de captação do ex-governador Sérgio Cabral. Ela chegaria a R$ 270 milhões. Noutra vertente dos infortúnios do Rio, com suas petrorroubalheiras, o comissário Pedro Barusco garfou e devolveu R$ 316 milhões. Já o doutor Julio Faerman, operador de contratos com a Petrobras, acertou-se com a Viúva entregando-lhe R$ 176 milhões. Somadas, as cifras desses três doutores chegam a R$ 762 milhões.
O maníaco foi atrás de saques anteriores e aprendeu que o Rio foi depenado pela primeira vez em 1711, quando tinha 12 mil habitantes. Numa manhã nevoenta de setembro, o corsário francês Duguay-Troin entrou na baía com 17 navios, 740 peças de artilharia e 5.800 soldados. Uma semana depois, o governador da capitania decidiu evacuar a cidade e escafedeu-se. A soldadesca francesa saqueou casas abandonadas e o corsário aceitou o pagamento de 610 mil cruzados, cem caixas de açúcar, mais 200 bois para ir-se embora. Cada cruzado de ouro pesava um grama.

O maníaco imaginou que Duguay-Troin teria chegado à França com o resgate e derretido o butim, enterrando-o. Quem achasse hoje o tesouro do Rio de Janeiro setecentista encontraria barras pesando 610 quilos, valendo R$ 720,5 milhões na cotação de 2017.
Com suas canetas, Cabral, Barusco e Faerman superaram a marca do corsário do  século 18, que precisou de 17 navios, 74 canhões e uma semana de combates.
Francisco de Castro Morais, o "Vaca", governador da capitania do Rio de Janeiro à época do saque de Duguay-Trouin, foi preso e degredado para a Índia, onde ficou por 30 anos.

Elio Gaspari - Folha de S.Paulo

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