Integrante da equipe mostra marcas de garra na parte superior da cavidade, cuja abertura fica no meio da mata no Parque das Mangabeiras. Foto: Leandro Couri/EM
A paleotoca (antigo abrigo de animais pré-históricos extintos) identificada no Parque das Mangabeiras, na Zona Sul de Belo Horizonte, por um grupo de espeleólogos, biólogos e estudiosos da paleontologia provavelmente foi escavada por um representante das dezenas de espécies de preguiça-gigante já descritas. A avaliação é do biólogo Luciano Vilaboim, do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, responsável por identificar características que permitiram classificar a cavidade não como uma abertura natural, mas sim como o antigo abrigo escavado por um representante da megafauna que há cerca de 10 mil anos vagava pela área onde hoje fica a capital mineira.
Vilaboim defende que a toca de BH tem mais características de ter sido obra de alguma espécie de preguiça pré-histórica do que de um tatu extinto. Os tatus conhecidos não tinham, por exemplo, a capacidade de cavar o teto de uma caverna com as garras, pois não tinham essa extensão de movimento com as patas, que se moviam apenas para frente e para os lados. “Os pampatérios que conhecemos hoje, aqui no Brasil, em laboratórios, têm garras pequenas, comparadas, por exemplo, às do tatu-canastra (com até 20 centímetros), mas as garras que perfuraram esse teto são muito grandes”, explica o especialista.
"É muita sorte ter um patrimônio como este dentro de um parque. Caso contrário, a construção de estradas, de casas e principalmente a ação das mineradoras poderiam suprimir e destruir completamente a caverna"
Luciano Faria, espeleólogo
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Foto: Leandro Couri/EM |
Para explicar a hipótese de ter sido aquele um refúgio de uma preguiça-gigante, o especialista conta um pouco da evolução das espécies no continente. “A América do Sul era uma espécie de ilha, e por milhões de anos as populações de preguiças se desenvolveram nela. Chegamos a encontrar preguiças com até seis metros de comprimento. Não que seja uma dessas que abriu a caverna. Mas, talvez, uma espécie de preguiça de dois metros, ou pouco menor, que em algum momento fez tocas”, disse.
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