terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Inimigo número 1 de Temer é o

Na guerra contra o crime organizado, o principal inimigo do Estado é uma convenção de linguagem: a expressão “por outro lado”. Impossível fazer uma resenha dos últimos acontecimentos sem usar “por outro lado”. Pela primeira vez, Brasília avocou para si o problema da segurança. Por outro lado, a decisão foi de Michel Temer, um presidente denunciado e em fim de linha. Interveio na segurança do Rio. Por outro lado, manteve o poder político nas mãos do seu PMDB, que saqueou o Estado. Criou o Ministério da Segurança Pública. Por outro lado, deslocou Raul Jungmann para o posto e deixou um militar na pasta da Defesa, um retrocesso histórico.
Depois da Constituição de 88, nenhum governo havia se animado a intervir num Estado, ainda que num setor específico. Por outro lado, o plano foi feito em cima do joelho. Nomeado há dez dias, o general-interventor Braga Neto ainda não expôs seu plano de ação. Espera-se que anuncie alguma coisa nesta terça-feira.

Pode-se dizer que, ao trocar a reforma da Previdência, tema impopular, pela segurança pública, assunto de forte apelo, Temer passou a sensação de que algo se move no seu governo. Por outro lado nada se mexeu de verdade. As Forças Armadas, que já estavam no Rio, permanecem lá. Jungmann, que já cuidava de segurança, continuará cuidando. A segurança virou prioridade. Por outro lado, o Plano Nacional de Segurança Pública, anunciado com pompa há um ano, continua sendo uma ficção. Enfim, a guerra contra o crime organizado é uma ótima iniciativa. Agora só falta derrotar a expressão “por outro lado”.
Josias de Soiza

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