quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Novela da Globo é investigada por merchandising sobre coaching

Na trama, Clara (dir.) ajuda Laura (centro) a superar trauma com ajuda de Adriana. Foto: Globo/Reprodução

A campanha publicitária envolvendo a prática do coaching na novela O outro lado do paraíso, da Globo, foi alvo de um processo instaurado no Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária). A trama, que envolve a personagem Laura (Bella Piero), vítima de abuso sexual na infância, já havia recebido críticas de outras instituições, incluindo o Conselho Federal de Psicologia. 

A novela mostra Clara (Bianca Bin) tentando ajudar Laura a superar o trauma da violência sexual cometida pelo padrasto, Vinicius (Flávio Tolezani), quando tinha 8 anos de idade. Em uma ação patrocinada pelo IBC (Instituto Brasileiro de Coaching), a personagem Adriana (Julia Dalavia) aplica seus conhecimentos da técnica em uma espécie de hipnose, fazendo a vítima revisitar memórias do passado. O processo no Conar aponta uma confusão entre as práticas de coaching e psicoterapia, "uma vez que houve o entendimento de que o coach pode garantir resultados a um trauma psicológico por meio de hipnose". 

"Coach é o profissional que aplica o coaching e não a metodologia em si. No entanto, o principal problema está na afirmação de que o processo pode utilizar a hipnose", defendeu Sulivan França, presidente da Sociedade Latino-Americana de Coaching (SLAC), em um ofício enviado à Globo. "É um processo de planejamento estratégico do indivíduo para que ele possa sair de onde está no presente e chegar aos objetivos que quer alcançar no futuro, sem falar, em momento algum, de passado ou utilizar qualquer técnica como a hipnose. Em nenhum momento está ligado ao passado", completou. 

De acordo com ele, há a preocupação em induzir profissionais da área a atuar de maneira equivocada. "Além de ilegal, isso se tornaria um problema de saúde pública, o que é extremamente preocupante", disse. Em um comunicado, o Conselho Federal de Psicologia afirmou que a abordagem a temas relacionados a abuso sexual e saúde mental em O outro lado do paraíso era um "desserviço" ao país. 

"Mesmo compreendendo o caráter de uma obra de ficção, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) entende que a telenovela O outro lado do paraíso, por se tratar de uma obra capaz de formar opinião, presta um desserviço à população brasileira ao tratar com simplismo e interesses mercadológicos um tema tão grave como o sofrimento psíquico de personagem cuja origem é o abuso sexual sofrido na infância", alega a publicação, ao que a emissora respondeu, reiterando o caráter ficcional da obra. 

"As novelas são obras de ficção, sem compromisso algum com a realidade. A Globo reconhece a importância de todos os seus programas para discussões e reflexões sobre assuntos de interesse da sociedade e está atenta à responsabilidade que lhe é atribuída sobre todos os temas abordados. O que a novela O outro lado do paraíso quer mostrar com o desenvolvimento da trama da personagem Laura é o processo pelo qual passa uma pessoa que precisa de ajuda, recorrendo a diferentes e variadas formas de apoio e terapias, das mais às menos ortodoxas", diz a nota. 

Por`Viver/Diário - Diário de Pernambuco

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