Foto ilustrativa
No finalzinho dos anos 1970, a família de seu Zé Chico ainda morava no Sítio Boa Vista, em uma área de terra entre a rodagem - estrada de terra que ligava o centro de Petrolândia ao povoado de Barreiras - e as margens do rio São Francisco, na inesquecível velha Petrolândia. O local era bastante privilegiado, pois ficava em frente a um banco de areia (a crôa) que aparecia no meio do rio, entre Pernambuco e Bahia, nos períodos em que as águas baixavam.
Na margem do rio, junto a um lajeiro, onde se equilibrava uma árvore que conhecemos como salgueiro (que não era o salgueiro-chorão), era o lugar de lavar e quarar as roupas, aprender a nadar, apanhar água, pegar piabas em peneiras com um pouco de farinha, brincar com os peixes que se escondiam nas locas, embaixo das pedras. O lugar também servia para o banho normal (com sabonete).
Certa vez, jovens mulheres da família - tias e sobrinhas - desceram para tomar banho no rio, no comecinho da noite. Tinha que ser à noite, pois tomavam banhos nuas ou seminuas. Não lembro em que fase estava a lua nessa noite, mas tinha um pouco de claridade, porque, depois de algum tempo, uma das mulheres deu o alarme: "Olha o jacaré!".
É um jacaré ou não é um jacaré? Ninguém ficou dentro d'água para conferir. Saíram todas, correndo ribanceira acima, rumo à casa. O pânico dessas mulheres foi tanto que teve menina-quase-moça que correu do jeito que estava: nua.
Depois de algumas averiguações, feitas pelos destemidos homens da casa de Zé Chico, constatou-se que o jacaré era, na verdade, um pedaço de madeira sendo levado pela correnteza do rio. Mas, aí era tarde, acabou-se o encanto do banho daquela noite.
Lúcia Xavier/Memórias da Boa Vista