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Mais de 717 mil foliões aproveitaram o segundo dia de carnaval em 67 blocos no Rio de Janeiro, de acordo com levantamento da Riotur. Apesar da incerteza que marcou os dias que antecederam a maior festa popular da cidade, quando agremiações tradicionais tiveram problemas para conseguir patrocínios e as autorizações exigidas pela prefeitura, só a chuva que caiu no fim da tarde deste domingo, 3, conseguiu esfriar - temporariamente - a festa.
Ao longo do dia, muitos blocos bateram recorde de público. O Areia, na orla do Leblon, reuniu 326 mil foliões durante a tarde, quatro vezes o número do ano passado, quando 80 mil pessoas participaram de seu desfile. Só parou por causa da chuva. Mas também teve bloco de todo tipo: pequeno, com 150 participantes, como o Bloco 10+ malandros; com temática infantil, como o Clubinho do Samba, que reuniu 700 pessoas: e LGBTQ+, como o Abraço do Urso.
O número final da Riotur já considera o Simpatia É Quase Amor, que desfilou na tarde de hoje, pelo trigésimo quinto ano. O bloco tradicional de Ipanema levou às ruas um samba de tom político, com o qual os organizadores defenderam o carnaval carioca. Com o tradicional grito de guerra - "Alô Burguesia de Ipanema!"-, o Simpatia homenageou também o comerciante Alfredinho, dono do bar Bip Bip, em Copacabana, que morreu no sábado. Reduto de sambistas e carnavalescos, o Bip, como é chamado pelos cariocas, foi um dos locais onde o carnaval de rua do Rio renasceu, com Bloco do Bip Bip.
No centro da cidade, a política também deu o tom nas fantasias e no discurso dos organizadores do baile de carnaval do Cordão do Boitatá, que homenageou a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em 14 de março de 2018 com o motorista Anderson Gomes, em crime até hoje sem solução. O músico José Maurício Horta, um dos fundadores do grupo, criticou as restrições impostas pela Prefeitura do Rio, que este ano passou a exigir autorização da Polícia Militar (PM) para os desfiles. Mais de 100 blocos desistiram de sair às ruas.
"Não teve um bloco na cidade que não tenha comido o pão que o diabo amassou para sair este ano", afirmou Horta, num intervalo do show, enquanto integrantes do grupo literalmente passavam o chapéu para recolher dinheiro e ajudar a pagar os custos do baile, logo após os músicos tocarem "Eu quero é botar meu bloco na rua", do cantor e compositor Sérgio Sampaio. A prefeitura argumenta que apenas organizou a festa.
Mas o prefeito Marcelo Crivella não foi o único alvo de quem aproveitou a festa para brincar e protestar. Fantasiado de caixa eletrônico, o professor de geografia Faber Paganoto, de 36 anos, saiu acompanhado de 47 "cheques laranjas" de R$ 2.000, numa alusão aos depósitos frequentes que o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz fazia e recebia para outros funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro quando o senador e filho do presidente Jair Bolsonaro era deputado estadual no Rio. O grupo se organizou pelas redes sociais.
"Joguei a ideia no 'Stories' (espaço para pequenos vídeos no Facebook), e as pessoas foram se juntando", disse Paganoto, explicando que alguns dos 48 foliões nem se conheciam anteriormente.