segunda-feira, 20 de julho de 2015

Histórias de repórter (64)



Estava na redação do Comitê de Imprensa da Câmara dos Deputados, que presidi eleito pelo voto direto, quando a televisão, que ficava ligada 24 horas, deu em edição extraordinária a morte do então ministro da Reforma Agrária, Marcos Freire. Aos 56 anos, Freire perdeu a vida no dia 8 de setembro de 1987, num acidente aéreo. O jatinho que o transportava de volta a Brasília caiu no sul do Pará, poucos minutos após a decolagem.
A bordo estavam também o secretário-geral do Ministério, Dirceu Pessoa; o presidente do Incra, José Eduardo Vieira Raduan; o secretário particular José Coelho Teixeira Cavalcanti e os assessores Amaury Teixeira Cavalcanti e Ivan Ribeiro, além do tenente-coronel aviador Wellington Rezende, o capitão aviador Jorge Shimonura e o 3º sargento Carlos Alberto da Silva. Ninguém escapou.
Além do impacto da morte do ex-ministro, o que mais repercutiu entre os colegas do Comitê de Imprensa foi o fato do jornalista pernambucano Geraldo Sobreira, então assessor de imprensa do ministro, ter entrado no avião e na hora do embarque, a pedido do ministro, saído para ceder sua a vaga a outra pessoa. Geraldinho, como era conhecido, nasceu de novo e foi objeto de uma reportagem no Fantástico.
Grande figura o Geraldinho, que ainda mora em Brasília. Na sucursal de O Globo, no Recife, ele era conhecido como o jornalista que cheirava o texto antes de enviar, via telex, para Brasília, porque usava óculos fundo de garrafa e revisava a matéria em papel colada ao nariz. Correu a versão de que o avião de Freire havia sido sabotado e que fora vítima de atentado.
O advogado Dorany Sampaio, presidente do PMDB, estranha o fato de o acidente não ter sido esclarecido até hoje. “Infelizmente, Marcos Freire morreu num acidente que até hoje não existe esclarecimentos convincentes”, observa. Dorany foi coordenador da área jurídica da campanha de Marcos Freire a governador em 82, quando perdeu para Roberto Magalhães.

Freire, que morreu em circunstâncias muito parecidas com a de Eduardo Campos, também vítima de acidente aéreo, como o ex-governador fez carreira no Congresso, sendo eleito deputado federal e senador da República. Foi também prefeito de Olinda, mas renunciou após o Ato Institucional nº 5 ter cassado os direitos políticos de seu vice.
No Congresso, Freire, se notabilizou por sua oposição ao regime militar, defendendo temas como a instalação de uma Assembleia Constituinte e a anistia política para presos e exilados da ditadura. Com os deputados Fernando Lyra (PE), Alencar Furtado (PR), Francisco Pinto (BA)) e Lysâneas Maciel (RJ) formou o grupo dos "autênticos" do MDB, a ala mais à esquerda do partido de oposição.
Tornou-se líder do MDB na Câmara dos Deputados. Defendeu a convocação da Assembléia Nacional Constituinte, a anistia para os cassados e banidos pelo regime militar, a eleição direta em todos os níveis, a reforma agrária e o fim da censura aos órgãos de imprensa. Escolhido várias vezes pelo comitê de imprensa da Câmara como um dos melhores deputados do Congresso Nacional, se transformou no candidato natural do MDB ao Senado, em 1974.
A campanha ao Senado veio a se tornar a mais vibrante que ocorreu em Pernambuco durante o regime militar. Com sua oratória fácil, o seu carisma e o seu poder de convencimento, empolgou eleitores do Sertão ao Cais com o slogan “Sem ódio e sem medo”, criado pelo jornalista e publicitário Eurico Andrade, já falecido.
Pesava a seu favor o fato de ser jovem, bonito e carismático e ainda disputar contra um político então com 76 anos, o usineiro João Cleofas de Oliveira, que residia no Rio e já tinha perdido três eleições para o Governo de Pernambuco: em 50 para Agamenon, 54 para Cordeiro de Farias e 62 para Arraes. Por isso, era chamado pelos opositores de “João três quedas”.
Em 1984, dois anos após a frustrante derrota para Roberto Magalhães, Feire participou ativamente da campanha das diretas, mas no posto de presidente da Caixa, nomeado por Sarney, se negou a apoiar a candidatura de Jarbas Vasconcelos para prefeito do Recife em 1985, optando por uma aliança branca com o PDS, tendo na cabeça o deputado federal Sérgio Murilo (PMDB), que perdeu a eleição. Já fora do PMDB, Jarbas ganhou eleição pelo PSB.
Coisas da política que não se entende: quando Arraes, de volta do exílio, com uma enorme popularidade, já queria disputar o Governo do Estado em 82, foi o então deputado Jarbas Vasconcelos que deu o voto de minerva dentro do PMDB para Marcos Freire ser o candidato, contrariando Arraes, que a partir deste episódio começou a olhar enviesado para ele, com quem veio a romper em 92.

Via Blog do Mágno Martins
Blog de Tony Xavier

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