Literatura de Cordel: Como o meu Pai já dizia

Meu velho pai já dizia
Meu filho tome cuidado
O mundo é um livro aberto
Que não permite o errado
Somos como pé de milho
Que cresce sempre no trilho
Á referência é o pendão,
E se dele não cuidar
O vento pode soprar
E ele tomba ao chão.

Temos que ser coerentes
Temos que ter atitudes
Mesmo depois de adulto
Mantenha a pose,não mude
Cultive á sinceridade
Falando sempre a verdade
Como costumo fazer,
Que o verdadeiro amigo
Vai estar sempre contigo
Isso eu posso dizer.

Meu pai tabém me dizia
Não se iluda com a beleza
Não pense em vaidade
Nem procure a riqueza 
Ande dentro da razão
Não se envolva em confusão
Pra não sair machucado,
Quem vive de vaidade
Ou mais cedo ou mais tarde
Acaba sendo o culpado.

Surgiu um grande boato
Que mexeu com á nação
Da construção de uma usina 
Lá pras bandas do sertão
Assustando moradores
Ribeirinhas, agricultores
Teriam que se mudar,
Toda terra bela e rica
O lago de Itaparica
Iria assim, inundar.

Meu pai dizia: meu filho
Isso tudo vai mudar
O rio vai ser um lago
Parecido com o mar
Vai mexer com nosso povo
Será um cenário novo
Transformando o sertão,
Quem alcançar esse tempo
Viverás grandes tormentos
Pois tudo é ilusão.

Agora vejo que o velho
Tinha a mais pura razão 
O grande lago surgiu
Inundando o sertão
Nossas terras nosso mundo
E sentimentos profundos
Que me fazem ficar triste,
Ao lembrar que no passado
Do  lugar hoje inundado
Só a saudade existe.

O rio que virou lago
Transformando o sertão
Deixou tudo diferente
Aqui nessa região
E como o meu pai dizia
Que era tudo fantasia
Vejam que tudo mudou,
Nosso rio está secando
O lago tá se acabando
Á coisa só piorou.

Portanto tomem cuidado
O Velho tinha razão
Vejam um grande exemplo
Á tal da transposição
Ás torneiras estão vazias
E ás mesmas agonias
Ninguém sabe o que fazer,
Todos estão lamentando
Pois continua faltando
Água até para beber.

Como o meu pai já dizia

Fotos: Acervo de Tony Xavier 

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