quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Morre no Recife Gato Novo : O Poeta do Povo

Foto: Acervo
Sertânia e o Moxotó de luto pela perda do cantador e cordelista faleceu hoje, quinta feira, em Recife Genival Pereira- Gato Novo- conhecido como “O Poeta do Povo”. O Mesmo estava internado no PROCAPE Recife e desde anteontem havia sido encaminhado para UTI daquela unidade de Saúde. Gato Novo sofria de doença de chagas agravada nos últimos anos.

Para o poeta Josessandro Andrade, amigo pessoal de Gato Novo, ele era alguém que, 
“com muito bom humor criou beleza e espalhou bondade nos seus versos meu melhor amigo, mais que um irmão, o meu segundo pai. Ficam as boas lembranças dele em cordeis , repentes , canções e músicas. Sertânia e o Moxotó perdem. Gato deixa uma lição de inteligência com humildade, sabedoria do Povo e Deus ganhou Um anjo sem igual: manso, meigo , doce, incapaz de fazer o mal. Com simplicidade, paciência e altivez. Gato Vive!!!!”, disse Josessandro.
        Poeta Martirizado
(Genival Pereira - Gato Novo)

O fantasma cruel da solidão
Me jogou lá no beco do desprezo
Deu um nó e eu nele fiquei preso
Igualmente um pacote sem visão
Fui levado num velho matulão
Sem saber de onde fui prá onde ia
Onde estava nem quem me conduzia
Fiquei sendo um volume pequenino
Conduzido no saco destino  
Esperando que Deus me tire um dia

Na estrada da velha crueldade
O destino me fez passar por ela
Passo o tempo passando em cima dela
Nas passadas cansadas da idade
No passado passei na mocidade
Perdi passos passando com fracasso
Passei dias de dores e cansaço
Passeava passava passeando
Hoje eu sei por onde estou passando
Amanhã eu não sei por onde passo

Por que é um martírio sem ter luz
Mexe tanto com a vida de um poeta
Crava ele na ponta de uma seta
Lhe obriga a sofrer levando a cruz
Faz igual fizeram com Jesus
Que morreu e depois ressuscitou
Subiu para o céu e lá ficou
Lá na glória do pai ganhou troféu
Jesus Cristo morreu, mas foi pro céu
E eu morrendo não sei para onde vou

Sempre tenho a divina proteção
O apoio sagrado dos arcanjos
Jesus Cristo com o seu coral de anjos
Se dirija em minha direção
Para o céu eu mando esta oração
Pelo anjo carteiro do senhor
Que entregue nas mãos do criador
Lá no trono de sua santa glória
Que Deus mande a coroa da vitória
para um pobre poeta cantador

O SERTÃO E O  VAQUEIRO
(Gato Novo)

No sertão quando amanhece
Tem queijo novo no xinxo
Um jumento solta um rincho
Que o pé da serra estremece
Uma raposa aparece
Arrodeando o poleiro
Roda o pirú no terreiro
Riscando as asas no chão
Quando Deus fez o sertão
Entregou tudo ao vaqueiro

Os passarinhos cantando
Na copa verde da mata
O sol brilhando a cascata
O gado escaramuçando
Uma serra cachimbando
Na altura do nevoeiro
Em cima do juazeiro
Cochila o camaleão
Quando Deus fez o sertão
Entregou tudo ao vaqueiro

O Sertão e terra boa
Deus fez bonito e bem feito
Para ficar mais perfeito
Botou mais de uma lagoa
Deu a ele uma coroa
De xiquexique e facheiro
Alastrado e juazeiro
Mandacaru e pinhão
Quando Deus fez o sertão
Entregou tudo ao vaqueiro

Deus fez meu Sertão amado
Tão cheio de boniteza
Prá completar a beleza
Colocou mulher e gado
Prá ficar mais enfeitado
Lhe vestiu com marmeleiro
Com catingueiro e pereiro
Jurema angico e chorão
Quando Deus fez o sertão
Entregou tudo ao vaqueiro

O sertão é muito lindo
A gente ver todo a hora
Gado pastando na flora
Ver porteira se abrindo
Formiga entrando e saindo
Na boca do formigueiro
Tem cada exu verdadeiro
Redondo como um bujão
Quando Deus fez o sertão
Entregou tudo ao vaqueiro

Eu tenho como um capricho
De ficar observando
Vendo a ovelha pastando
Coberta de carrapicho
Galinha ciscando o lixo
No aceiro do terreiro
E o gado do fazendeiro
Remoendo no oitão
Quando Deus fez o sertão
Entregou tudo ao vaqueiro

Carneiro gordo berrando
A vaca lambando o filho
Cavalo comendo milho
Cabrito novo mamando
Um jerico cochilando
Porco fuçando o chiqueiro
Carro de boi e carreiro
Burro comendo ração
Quando Deus fez o sertão
Entregou tudo ao vaqueiro
Via Blog Gota D'agua

Nenhum comentário:

Postar um comentário