quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Havelange: poder absoluto e ostracismo no fim da vida

Nenhum homem concentrou tanto poder na história do futebol quanto João Havelange. De 1974 a 1998, o brasileiro presidiu a Fifa com poder quase absoluto.
Aproveitando uma era em que a indústria do esporte dava um salto econômico, ele criou uma entidade tão lucrativa que por um lado fez florescer o futebol em todo o planeta, e por outro criou uma rede de lealdade e compromissos que ainda perdura.
Ironicamente, morreu longe da pompa, desligado dos principais órgãos esportivos do mundo. Seu enterro reuniu muito menos gente do que costumava haver em volta dele na época de glória.
Apontado como um dos artífices da escolha do Brasil em para sede da Olimpíada, ainda testemunhou um dos símbolos de sua decadência. O estádio das provas olímpicas de atletismo, inicialmente batizado com seu nome, foi rebatizado para Nilton Santos, que nunca teve o seu poder, e nem o nome ligado à corrupção.

Filho de um comerciante de armas, Havelange entrou no esporte pelas piscinas, disputando as Olimpíadas de 1936, como nadador, e 1952, no polo aquático. Tornou-se presidente da CBD, confederação que aglutinava vários esportes, incluindo o futebol. Sob sua administração, o Brasil venceu as Copas de 1958, 1962 e 1970. Mas na única em que foi chefe da delegação, o Brasil afundou, em 1966.
A partir de 1970, começou a alimentar o sonho de presidir a Fifa. Venceu a eleição de 1974, graças a um acordo com o herdeiro da Adidas, segundo o livro "Invasion of Pitch". A empresa se tornaria parceira da Fifa, status que mantém até hoje. A ISL se tornou a agência de marketing da entidade até falir em 2001.
Como presidente, expandiu as competições da Fifa. Aumentou a Copa de 16 para 24 e depois para 32 seleções, criou os Mundiais sub-20 e sub-17, a Copa das Confederações e o Mundial feminino.
Em 1989, após ser afastado pelos militares em 1975, conseguiu retomar o poder sobre o futebol brasileiro ao pôr o genro Ricardo Teixeira no comando da CBF. Protegeu Teixeira de várias formas, chegando a ameaçar –em vão– tirar do Brasil da Copa de 1998, quando o então ministro Pelé lançou o projeto de lei que extinguiria o passe.
Quando deixou a Fifa, em 1998, aos 82 anos, vislumbrava uma aposentadoria dourada. Era membro do COI e presidente de honra da Fifa.
E assim foi até que investigações na Suíça revelaram pagamentos da ISL a dirigentes da Fifa, incluindo ele próprio e o já ex-genro.
Por esses escândalos, Havelange deixou em 2011 o COI e dois anos após a Fifa. Com menos poder e a saúde em declínio, foi sumindo de cena. No seu enterro, havia apenas os cartolas fiéis, como Teixeira e o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman.
Marcelo Damato – Colaboração para a Folha

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