quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Francisco Nery Júnior: Os noivos de Petrolândia

Temos que agradecer aos noivos de Petrolândia. De Petrolândia, veio a boa nova. Os noivos, simplesmente dois noivos, nos alertaram para um recurso que pode trazer de volta os turistas para a região. O ensaio de noivado foi realizado na água e no vazio da igreja metade submersa da antiga Petrolândia. O velho templo seria uma peça de um grande baralho de atração de turistas. (A insistente devoção de Victor Hugo à igreja de Notre Dame de Paris é a causa da atração de milhões de visitantes para a França todos os anos. Os franceses lhe são imensamente gratos.)

A igreja matriz foi submergida e ficou submersa para que as águas do São Francisco pudessem produzir mais energia para a redenção do Nordeste. Esqueceram-se da igreja dos jagunços e das beatas contritas dos velhos tempos da Petrolândia antiga. Sepultaram-na para sempre. Quanta dedicação às suas crenças, pensávamos enquanto antevíamos o desaparecimento de um símbolo de fé para os católicos! Alguns de nós andamos no seu interior, antes do afogamento. Sentados nos velhos bancos lixados pela dedicação de quem, à sua maneira, se esforçava, durante anos, para louvar a Deus, projetávamos este momento de escrita sobre o patrimônio prestes a submergir.

Ele pode voltar à tona. Pode, se esforço e sensibilidade vencerem a descrença e o pessimismo. Pode voltar a brilhar, imponente no seio das águas, símbolo da tradição e da cultura do Nordeste brasileiro. Turistas, crédulos e curiosos, espantados talvez, em barcos e lanchas, deslizarão com coletes de salvamento e com guias treinados, sobre as águas do reservatório em direção ao local onde muitos dedicaram, anos a fio, as suas oferendas e a sua lealdade a Deus.

Pois nos parece lógico, intuitivo mesmo, que uma barreira pode ser erguida ao redor do velho templo que, livre das águas assustadoras, poderá ressurgir para os crédulos e para os saudosistas. Turismo é indústria sem chaminé. Turismo traz emprego, renda e ocupação. O São Francisco, o rio e o santo – nós também – exigimos uma resposta de quem resposta pode nos dar.

Temos lido e escrito sobre a queda da atividade turística na região. Não entendemos por que razão os prefeitos, que têm a delegação para a gerência responsável dos nossos recursos, não encampam iniciativas tais. Consideram-nos loucos; simplórios saudosistas irresponsáveis? Nos consideram sonhadores inveterados?

Assim sendo, mais uma vez, que saibam que as grandes realizações do mundo, os grandes avanços, brotaram primeiro na cabeça dos sonhadores.


Francisco Nery Júnior
P.S. Somos gratos aos noivos de Petrolândia pelo exemplo e pela inspiração.

Via PauloAfonsoAgora

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