terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A Vida à Vida

Em frente ao hospital onde está internada Marisa Letícia Lula da Silva, esposa do ex-presidente Lula, duas ou três pessoas gritam slogans contra a senhora doente. É pouca gente. Para o gosto deste colunista, é gente demais.
Há uns dois mil e poucos anos, pediram ao rabino Hillel uma definição rápida de Judaísmo. Hillel respondeu: "Não faça aos outros o que não gostaria que lhe fizessem. Esta é toda a Torah, a Lei. O resto é comentário". Na mesma época, Jesus ampliou a lição: "Façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam, pois esta é a palavra da Lei e dos Profetas".

Nunca fui apresentado a dona Marisa; não tenho motivos para dela gostar ou não (a não ser aquela estrelinha que ela inventou nos jardins tombados do Alvorada). Mas tenho todos os motivos para respeitá-la, ainda mais neste momento em que luta pela vida. Divergências políticas cessam quando algo superior se apresenta. Quem zela por uma vida zela por sua própria vida; zela pela vida de todos nós. Um esplêndido poeta inglês do século 16, o clérigo anglicano John Donne, sintetiza brilhantemente essa questão: "Nenhum homem é uma ilha, completo em si próprio; cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de um todo. A morte de cada ser humano me diminui, porque eu faço parte da Humanidade".


Saúde, dona Marisa. Brindemos à vida. Aliados ou não, lembremos que, se a sabedoria não deixa espaço para opiniões divergentes, sabedoria não será.
Carlos Brickmann

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