segunda-feira, 8 de maio de 2017

Zé Chico: Uma eterna lembrança da Boa Vista da velha Petrolândia

Zé Chico da Boa Vista

O tempo passa tão depressa que, quando a gente percebe, ele já tirou de nós mais do que nos deu. O tempo nos toma a juventude, as ilusões e, mais cedo ou mais tarde, nossos familiares, parentes e amigos. Hoje, vou falar um pouco sobre meu pai, José Francisco Xavier, mais conhecido como seu Zé Chico, do Sítio Boa Vista. Não tenho certeza, mas acho que ele nasceu no Sítio Espinheiro, em Tacaratu, onde ele casou com Santina Maria Xavier, minha amada mãe, e nasceram alguns dos seus 10 filhos - cinco homens e cinco mulheres. Lá ainda temos numerosos parentes.

Sou um dos filhos mais novos, não guardo lembrança dos pais de meus pais. Só me recordo de conhecer a mãe de papai, Rosalina Maria de Jesus. O pai de Zé Chico foi Francisco Manoel Bispo, conhecido como Chico de Iria. Meu avô não conheci nem por retrato, mas sua fama de poeta é confirmada pelos seus descendentes. Tenho dúvida, mas acredito que ele também era envolvido com a música, outro dom de sua prole. Entre seus descendentes, sempre houve e há filhos, netos, bisnetos, trinetos e por aí vai, além de parentes em outros graus, com pendores para as artes.

Meu pai gostava muito de música e de forró pé de serra. Tinha um reco-reco. Vários filhos tocavam violão aprendido "de ouvido", inclusive eu. Lembro do barulho do arrastar das chinelas no chão de cimento queimado na sala de nossa casa em noite de alegria. Não tinha televisão, mas uma radiola grande, "de móvel", e um rádio em que a gente ouvia as emissoras da Bahia.

Nesse tempo, no meio dos anos 70, com casa na beira do rio, canoa, olaria, roça e casa de farinha, nossa família podia ser considerada rica. À vista da pobreza do Sertão, naquele tempo, nossa casa era um palácio com um rio no terreiro. A casa ficava erguida no alto de uma ladeira, a menos de 100 metros do São Francisco. Quando era tempo de cheia, a água subia tanto que quase chegava na porta da cozinha.

Lembro meu pai o saudoso Zé Chico, homem de muito bom gosto, que andava elegante, chapéu alinhado e nos pés só alpercatas de couro. "Suspiro de Granada" era seu perfume preferido e o sabonete era Phebo. Naquela época, não existia telefone móvel nem tinha telefone fixo no meio do mato, mas o relógio de pulso que ele usava era como se fosse hoje um smartphone.

Quando ele ia na "rua" (centro da cidade), comprava Nescau e outras coisas que naquele tempo eram luxo. Lembro que ele gostava de tomar café misturado com Nescau e, na hora do almoço, costumava usar dois pratos: um com o almoço mesmo, o outro com caldo de feijão, cebola roxa picada e pimenta malagueta amassada.

Nos dias de sexta-feira, Zé Chico sempre ia para a feira livre de Petrolândia. Ele e alguns dos filhos possuíam bicicletas Monark, que eram antigamente o que as motos são hoje. Mas, na maioria das vezes, ele ia a Petrolândia pelo rio, na sua canoa de pescador. Eu ainda quase menino e alguns dos meus irmãos, descíamos à beira do rio para esperar a volta dele.

Ficam aqui registradas essas minhas recordações do passado, do tempo que não volta mais, do tempo em que o rio São Francisco era um rio, as crianças eram crianças e tinham sonhos, as coisas supérfluas eram poucas e supérfluas, o nosso trabalho era árduo e, por isso mesmo, as pequenas alegrias que tínhamos eram momentos de imensa felicidade para nós. Nós éramos ricos e não sabíamos, mas sabíamos que éramos felizes.

Tony Xavier

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