Às vésperas de virar alvo da segunda denúncia, Michel Temer sofreu uma dura derrota no Supremo. Por unanimidade, a corte negou o pedido para afastar Rodrigo Janot das investigações que o envolvem. O procurador venceu o presidente de goleada: 9 a 0.
A defesa queria que Janot fosse declarado suspeito por "ausência de imparcialidade". Se o tribunal aceitasse a tese, os dois inquéritos contra Temer iriam para as calendas. Assim, ele não teria mais motivos para se preocupar com a Lava Jato.
O advogado Antônio Cláudio Mariz disse que seu cliente "quer trabalhar, mas não consegue", porque "a cada momento uma nova denúncia aparece". Ele ainda acusou a imprensa, a culpada de sempre, de "dar eco para propagar o mal" contra Temer.
"Deixem-no em paz!", suplicou o causídico, antes de dizer que as acusações de corrupção têm causado grande "sofrimento" ao presidente, à mulher e a um "irmão doente".
Se a ideia era arrancar lágrimas, não funcionou. Os nove juízes presentes ouviram o discurso sem demonstrar qualquer emoção. O ministro Gilmar Mendes, que costuma se sensibilizar com os dramas de Temer, preferiu não aparecer para votar.
"Os fatos descritos não configuram causa de suspeição", resumiu a ministra Rosa Weber. "O presidente não foi o alvo exclusivo do procurador. Outros partidos e outros políticos foram igualmente atingidos", endossou Ricardo Lewandowski.
A sessão ganhou tom de desagravo ao procurador. "Não posso deixar de reconhecer a atuação responsável, legítima e independente de Janot, que tem exercido a chefia do Ministério Público com grande seriedade", disse o decano Celso de Mello.
Os elogios não livram Janot de explicar melhor as relações suspeitíssimas entre seu ex-auxiliar Marcello Miller e a JBS. Mesmo assim, o procurador venceu de lavada. Para Temer, fica um lembrete: a vida pode ser mais difícil quando os julgadores não trocam votos por cargos e emendas.
Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
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