sábado, 18 de novembro de 2017

Seminário abre discussões sobre o experimentalismo na literatura

Luis Serguilha, curador do evento/Foto: Divulgação
Não existe pensamento ativo sem tensão. Mas esse tensionamento não possui simploriamente dois lados opostos. Se a dicotomia ainda faz parte do seu dicionário, saiba que suas ideias sem dúvida estagnaram. As verdades não somente são muitas como devem ser questionadas de maneira crítica a todo o momento, principalmente se podam o corpo, a arte e o pensamento. 

Essas e outras reflexões a respeito da crítica no campo da arte em geral serão discutidas no seminário "Raias do Pensamento -Travessias Ibero-Afro-Americanas da crítica", que acontece neste sábado (18), das 10h às 18h30 no auditório do Museu do Estado de Pernambuco, com entrada franca, e tem curadoria do escritor ensaísta e curador de arte português Luis Serguilha.


Em entrevista à Folha de Pernambuco, Serguilha fala sobre a necessidade urgente de destruir o pensamento cartesiano e "abalar o mundo sensível cartografando os movimentos expressivos do corpo; o que o corpo pode dentro do desconhecido", explica. Quando se refere à sensibilidade, Serguilha não quer falar de emoção, mas de um afeto intenso que promove a força de dizer o indizível; ver o invisível e tocar o intangível. "O crítico é uma enciclopédia movediça em permanente mutação; é um agitador de ponto de vista", compara. 

É necessário, portanto, que a experimentação seja contínua para que o pensamento não entre no sedentarismo. "Precisamos fraturar as percepções, deslocar o eixo da terra, contemplar o mundo fora das identidades que aprisionam o corpo, o pensamento e a vida. Sem o corpo histérico não há pensamento", completa o curador. 



Nessa reflexão que não separa vivência e fazer artístico, a importância do caos é ressaltada como algo comparado ao ar que respiramos. Ultimamente, aliás, esse ar tem estado irrespirável, diante da repressão. "Temos urgência de simbolizar a vida com novas semióticas que destroem a representação. E conseguimos fazer isso quando conquistamos a potência dos afetos", esclarece Serguilha. 


O curador ressalta ainda o papel da natureza no entendimento da arte. "Sem entendermos a natureza, não intensificaremos a arte. E mais: temos que ter coragem de nos perdermos nas fugas do acaso, pois nada é fixo. E isso é altamente positivo, pois faz o crítico aprender a elaborar conceitos dentro do inesperado. "É como uma ciranda jazzística em que vários pontos de vista se cruzam como forças caleidoscópicas", compara. 

Há também uma urgência em ver, captar e contemplar o mundo, um hábito que a modernidade retirou do cotidiano do indivíduo. Pressionado por julgamentos constantes e instantâneos vindos das redes sociais, o ser humano precisa aprender a fugir e a combater o que o curador chama de micro-fascismos da vida cotidiana. "O mundo classificativo destrói a capacidade de as coisas acontecerem. E assim surgem psicoses e neuroses, por causa do enclausuramento do pensamento", alerta.

No evento, duas mesas de discussão. Na primeira, pela manhã, "A Arte Poética: Experimentação da Impossibilidade", com a professora espanhola Montserrat Villar, Maria do Carmo Nino, Fernando Monteiro e Virgínia Leal. Após a palestra, Montserrat Villar e Fernando Monteiro, que também são poetas, farão parte da Raias Sonoras, sessão de leituras de poemas, da qual também vão participar Delmo Montenegro, Jonathas Onofre, Camillo José e Wilson Freire.

Na parte da tarde, a temática de discussão será Escrileitores: O difícil como sedução, as esponjas estéticas do mundo, que também será dividida em dois momentos. Participam do Dobras do Pensamento: Abreu Paxe (Angola), Anco Márcio Tenório, Ana Maria Haddad Baptista e Lourival Holanda. Encerrando a programação, haverá mais um momento de leitura de poesias, agora com Marcelo Mário de Melo, Silvinha Góes, Abreu Paxe, Philippe Wollney, Virgínia Leal e Geisiara Lima. Não é necessário fazer inscrição prévia.


Por: Carol Botelho, da Folha de Pernambuco 

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