terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Livro se debruça sobre a atuação do Teatro de Cultura Popular em Pernambuco

Espetáculo "A volta do camaleão"Foto: Divulgação

Fundado em 1960, durante a primeira gestão de Miguel Arraes na Prefeitura do Recife, o Movimento de Cultura Popular (MCP) empregou seus ideais de educação conscientizadora em diferentes frentes. O Teatro de Cultura Popular (TCP) era o braço teatral do projeto, responsável por aproximar a arte dramática das camadas populares de Pernambuco. 

Encerrada após o golpe militar brasileiro, a iniciativa tem sua história devidamente documentada e resgatada em um livro assinado pelo historiador Rudimar Constâncio. "Teatro da Cultura Popular: uma prática teatral como inovação pedagógica e cultural no Recife (1960-1964)" (224 páginas, R$ 40) é fruto de uma dissertação de mestrado realizada pelo autor na Universidade da Madeira, em Portugal, e demandou dois anos de pesquisas. 

"Sempre me interessei muito por esse teatro mais político e não havia nenhum estudo publicado sobre o TPC. O livro é uma forma de deixar essa trajetória registrada para as gerações futuras", afirma o pesquisador, que colheu informações por meio de publicações da época e de entrevistas com pessoas que participaram do grupo.


Reunindo nomes como Germano Coelho, Ariano Suassuna, Hermilo Borba Filho, José Wilker, Luiz Mendonça e Ilva Niño, o TCP teve um importante papel junto a operários e camponeses. "A proposta do movimento como um todo era tirar o povo da extrema pobreza e ignorância. O braço teatral se fortaleceu nesse sentido, porque se uniu à pedagogia do oprimido de Paulo Freire, empregando esse conceito em suas ações", aponta.


Ainda em seus primeiros anos de atuação, o grupo foi impactado pela troca de experiências com o Teatro de Arena, de São Paulo. Em 1961, o diretor Augusto Boal, líder da companhia, veio ao Recife para ministrar um seminário de dramaturgia. 

Como resultado da experiência, o encenador escreveu a peça "Julgamento em Novo Sol", em parceria com Benedito Araújo, Hamilton Trevisan, Modesto Carone e Nelson Xavier. Este último dirigiu a primeira montagem do texto, com os atores do TCP, em 1962. 

"A história brasileira, normalmente, é contada a partir do ponto de vista do Sudeste. Mas o TCP é a prova de que, já na década de 1960, nós tínhamos aqui um teatro de interesse nacional. Mesmo que os militares tenham atrapalhado essa caminhada durante 20 anos, o movimento influenciou o que veio depois. Percebemos isso nos espetáculos de rua, no teatro feito nas comunidades, na arte-educação. Isso é um legado", defende. Após o lançamento, o livro estará à venda no Sesc Piedade.


Por: Daniel Medeiros, Folha de Pernambuco

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