Ainda hoje se acredita que o status de Patrimônio da Humanidade, dado ao sítio histórico de Olinda em 1982, representa o tombamento arquitetônico e paisagístico da Cidade Alta ou garante repasses financeiros para a Cidade Alta através de organismos internacionais. Mas na verdade esse título é uma espécie de premiação que coloca a região “condecorada” no roteiro dos locais com valor simbólico para a história da humanidade. Na prática, esse status é o ponto de chegada após um caminho trilhado por moradores e poder público local que atesta a capacidade de um povo de preservar o próprio patrimônio e outorgar a sua relevância para a memória do país. Olinda é uma das 11 cidades brasileiras com o título de Patrimônio da Humanidade.
O historiador e arqueólogo Plínio Victor lembra que, antes do título, uma série de leis e títulos foram sendo outorgados ao sítio histórico e foram eles que ajudaram a proteger os monumentos civis e religiosos desde 1938. Mas, para Plínio, a maior contribuição na salvaguarda da memória da Cidade Alta até hoje aconteceu em 1979, quando foi criado o Sistema de Preservação dos Sítios Históricos de Olinda de forma pioneira no Brasil. “Foi nesse momento que o primeiro inventário dos
imóveis foi elaborado. O lamentável é que ao longo desses 35 anos ele foi sendo gradativamente desmontado e hoje é uma mera secretaria municipal, que depende tantos dos recursos do município quanto da política de governo que está na gestão”, lamenta Plínio.
Graças também a esse sistema, uma série de ações de restauração e preservação de imóveis foram sendo deflagradas, a maioria com financiamento do programa Monumenta, como a requalificação do Parque do Carmo, do Alto da Sé, do Largo do Rosário e do Varadouro. “Teve o embutimento da fiação de alguns pontos, como do Alto da Sé, das ruas São Bento, 15 de Novembro, Rua do Sol e da Avenida Sigismundo Gonçalves. Também abrimos a visada para o Horto Del Rey e a requalificação da Praça do Fortim e das peixarias do entorno”, cita a presidente da Fundarpe, Márcia Souto, que esteve à frente da Secretaria de Cultura de Olinda até 2012. “Esse título representa a dimensão que a cidade tem. Olinda condensa tudo o que nossa identidade representa enquanto povo”, declara.
Atualmente, catorze projetos de revitalização de monumentos históricos tramitam no Iphan. Dois deles estão em andamento, que é a reforma do Adro do Convento São Francisco até o cruzeiro, e da Igreja do Bonfim. “Todos os 14 projetos fazem parte do PAC Cidades Históricas. A maioria já está aprovado, à espera de ajuste de orçamentos e licitação. Damos uma atenção especial a esses projetos porque esperamos manter o título de Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade e queremos atrair não apenas o público nacional, mas também internacional”, detalha o técnico do Iphan, Frederico Almeida. Entre os equipamentos à espera da
liberação de recursos para reforma, destacam-se a Igreja de São Pedro, o Mosteiro de São Bento, o Teatro Duarte Coelho, o Casarão Lundgren e o Arquivo Público Municipal.
O historiador Plínio Victor ressalta que a maior dificuldade no que tange à preservação do sítio histórico de Olinda versus interesses particulares é que, diferente de outras “Cidades-Patrimônio”, o nosso não é isolado, como acontece em Paraty e Ouro Preto, por exemplo. “Olinda está em meio a quatro milhões de pessoas. O Brasil começou a ser pensado e construído a partir de Olinda, que é um lugar inteiro, completo, cultural. Todomundo quer desfrutá-la de alguma forma. Mas, por isso, esse desfrute deve ser ponderado e fiscalizado. Preservar esse patrimônio é fundamental porque um povo sem memória não é nada”, coloca Plínio.