segunda-feira, 22 de julho de 2019

Mestre Aprígio que fez peças em couro para Luiz Gonzaga é eleito Patrimônio Vivo de Pernambuco


Com a fala mansa e o olhar esquivo, Mestre Aprígio, garante a continuidade da arte de costurar em couro já por três gerações em Ouricuri, no Sertão pernambucano. Neste mês de julho, a notoriedade do seu saber foi reconhecida, e, ele foi eleito patrimônio vivo de Pernambuco, junto com mais cinco nomes. O estado conta agora com 63 patrimônios vivos.

José Aprígio Lopes nasceu em 25 de maio de 1941, em Exu, no Sertão. O artesão confecciona peças em couro. Ele conta que acompanhava o pai no trabalho da roça, mas foi aos onze anos, cuidando da comida do gado, que as roupas de couro dos vaqueiros encheram os seus olhos e mudaram seu destino.

Aos 15 anos, comprou uma faquinha, um esmeril, um compasso e começou sozinho a fazer do sonho sua vida. “Acho que é um dom, tem que ser um dom assim seilá, por causa que muita gente sempre foi para trabalhar, mas não dá para aquela arte assim”.

Com a morte do pai, aos 19 anos, conseguiu uma espécie de estágio na oficina do Mestre Juarez, no Crato, no Ceará. Ele acabou ficando três anos por lá, depois voltou a Pernambuco como artesão profissional.

No início dos anos 70, o rei do baião, Luiz Gonzaga, conheceu o mestre artesão, gostou tanto do trabalho dele, que passou a encomendar chapéus e gibões, que usou em shows pelo Brasil afora. Isso ajudou na trajetória que transformou o menino tímido de Exu, em patrimônio vivo de Pernambuco.

“Luiz Gonzaga ficou muito grato, porque eu recebi ele bem, com muita ansiedade de conhecer ele também , porque ele já era artista e eu não era. E eu, mais rapaz, eu, está nas maõs de um artista desse, mas tem nada não, a gente vai ver o que é que faz. Aí ele disse assim: ‘Tenho uma surpresa para você’. E eu, pode falar, mestre:’Eu tenho umas encomendas para você fazer pra mim usar nos meus shows, não é negócio pra vaqueiro, nem pra usar assim, só pra quando eu tiver no meu show, usar’. Eu perguntei a ele: ‘Qual a peça?’. Ele disse: ‘Um gibão, um chapeú e um vestuário de couro muito bem feito, o que você puder fazer, pode jogar em cima, que aí, eu acredito que sai do jeito que a gente quer mesmo”. De lá pra cá, a gente ficou se conhecendo, chegava lá na minha casa, entrava, sentava, tomava café”, relembra.


Hoje, aos 78 anos, o mestre continua trabalhando todos os dias e fez da arte de costurar em couro seu legado. Dois filhos trabalham com ele na oficina, Romildo Lopes e Izídio Lopes. O neto Joelson Lopes também decidiu cedo que seguiria os passos do avô. É a terceira geração da família de artesãos. “É uma coisa que eu faço com muito amor, porque é uma arte muito difícil, a gente tem que seguir em frente”, afirma o neto. Por Jornal Desafio/Informações: (G1)

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