domingo, 24 de maio de 2020

O carrasco e o pavor do patíbulo


Os carrascos têm a existência atormentada pelo sangue esguichado de suas guilhotinas. O que passa em suas cabeças quando as coisas se invertem e eles caminham em direção ao patíbulo para o sacrifício: orgulho da vida de impiedades; escusas àqueles anônimos e eventuais inocentes que imolou; indulgência aos poderosos, que agora querem decapitá-lo; apelo a um processo isonômico ou apenas a morte silenciosa e resignada como arremate de uma vida inumana?

Sérgio Moro, à feição dos verdugos, tem índole dolosa. A nova toga da vindita não o converte em vítima, menos em promotor da legalidade. Repelido pelo capitão da Descalábria (país imaginário ao sul do equador) invocou o Estado de Direito para delatar, tardiamente, a intervenção política na PF. Também se insurgiu contra a disparidade de armas e recriminou o vazamento parcial em uma transcrição. Seletividade foi o padrão da lava jato em sua comarca, em Curitiba. Não tem bons antecedentes na lide.

Antes da fama, em 2004, Sérgio Moro prolatou uma doutrina peculiar da transgressão. O libelo incensando a operação “mãos limpas” e o promotor Antônio Di Pietro tornou-se o vade mecum dos lavajatistas. Eis a súmula do memorial fascista: 1) presunção da inocência pode ser mitigada para encarcerar suspeitos indefinidamente; 2) prender para delatar; 3) deslegitimar a classe política e, 4) publicidade opressiva contra os investigados. O código personalíssimo do magistrado, recepcionado literalmente pela lava jato, foi capital para história. “Mãos limpas” não nasceu como projeto de poder. A diferença da lava jato é esclarecedora.

“Os responsáveis pela operação mani pulite ainda fizeram largo uso da imprensa. Com efeito: Para o desgosto dos líderes do PSI, que, por certo, nunca pararam de manipular a imprensa, a investigação da “mani pulite” vazava como uma peneira. Tão logo alguém era preso, detalhes de sua confissão eram veiculados no “L’Expresso”, no “La Republica” e outros jornais e revistas simpatizantes. Apesar de não existir nenhuma sugestão de que algum dos procuradores mais envolvidos com a investigação teria deliberadamente alimentado a imprensa com informações, os vazamentos serviram a um propósito útil. O constante fluxo de revelações manteve o interesse do público elevado e os líderes partidários na defensiva”, cravou o doutrinador Moro.

Por Weiller Diniz
O texto completo pode ser lido no site Os divergentes.

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