sexta-feira, 10 de julho de 2015

Temer tornou-se polo de serenidade no governo


Na situação em que se encontra, Dilma Rousseff evoca a figura de Ricardo 3º. Não por ser tirânica e sanguinária. Foi esse rei shakespeariano quem, vendo-se a pé e cercado por inimigos, bradou: “Meu reino por um cavalo!” Adaptada através dos tempos, a frase foi modificada na Brasília dos dias que correm para: “Qualquer coisa pelo meu reino!” Foi a senha para a entrada em cena da nova versão do PMDB —surgiu não para servir a Dilma como montaria, mas para cavalgar o governo dela enquanto lhe parecer lucrativo e conveniente.

Numa conjuntura crivada de ironias, Michel Temer, o mais tucano dos peemedebistas, um vice que Dilma tratava como versa até bem pouco, tornou-se um polo de serenidade no governo. Comporta-se como violinista de uma presidente que só conhece a percussão. No momento, Temer é a única garantia de que o PMDB, uma superestrutura a favor de tudo e absolutamente contra qualquer outra coisa, não exagerará nas suas extravagâncias.


Mesmo nas conversas mais reservadas, Temer esclarece que não adianta empurrar. Para fora da Constituição ele não irá. Ainda não sofreu da parte dos correligionários nenhum encontrão que pudesse insinuar o desejo de desviá-lo do seu propósito. Mas ouviu de um peemedebista do seu convívio ponderações que ajudam a entender o que vai na alma do PMDB.
O amigo de Temer citou dois personagens do período que antecedeu oimpeachment de Fernando Collor: o então vice-presidente Itamar Franco e o ex-senador Jorge Bornhausen, que presidia o ex-PFL, hoje rebatizado de DEM.

Collor vivia às turras com o Congresso. Quando sentiu que o chão lhe fugia dos pés, atraiu Bornhausen para sua equipe de ministros. Entregou a ele a coordenação política do governo. Era tarde. Derretido, o governo Collor já escoava pelo ladrão. Bornhausen fez de tudo para resgatá-lo. Mas tudo não quis nada com ele. Itamar Franco, tratado por Collor a pontapés, já havia inaugurado a temporada de conversas com a oposição.

Ninguém quer que você contrarie os seus princípios, disse a Temer seu amigo. Mas você precisa ser mais Itamar do que Bornhausen. Não pode se transformar num distribuidor de cargos e emendas nem permitir que o PMDB vá para o chão junto com o governo Dilma. Temer costuma dizer que não ignora a gravidade da conjuntura. Até por isso, não deseja protagonizar nenhum gesto que contribua para acentuar a crise.  Ao contrário. Enquanto puder, vai ajudar.

No último domingo, de passagem por Brasília, Fernando Henrique Cardoso contou para um grupo de tucanos uma cena que viveu no período pré-impeachment. Disse que Itamar Franco o chamou para uma conversa. Perguntou-lhe qual seria o desfecho da crise, como se já não intuísse. E FHC: Ora, Itamar, você vai ser presidente da República. É esse futuro de Itamar que boa parte do PMDB idealiza para Temer. Mas ele não parece convencido de que o desfecho da atual crise será um novo impeachment.

Longe dos refletores, Temer diz que Collor era um presidente sem base social e parlamentar. Quanto a Dilma, embora apareça nas pesquisas com taxas de aprovação baixíssimas  (10% no Datafolha e 9% no Ibope), ainda dispõe de movimentos sociais dispostos a quebrar lanças por ela. E o condomínio partidário que dá suporte ao governo no Congresso ainda não se dissolveu.

De resto, Temer demonstra preocupação com os efeitos econômicos da turbulência política. Receia que o eventual acirramento da crise espante investidores estrangeiros que têm planos de empreender no Brasil. Lamenta que o timbre das manifestações de Dilma seja belicoso. Acha que, ao travar um duelo retórico com seu antagonista Aécio Neves, a presidente potencializa a crise.

Por: Blog do Josias de Souza
Blog de Tony Xavier

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