sábado, 15 de agosto de 2015

A volta do velho PMDB


A Agenda Brasil, lançada por Renan Calheiros na última segunda, recoloca o PMDB no lugar que objetivamente lhe cabe na política nacional desde que esta se polarizou entre PT e PSDB: o centro do espectro. O fato de ser agremiação fisiológica não elimina o rol que desempenha de fato. O radicalismo golpista de Eduardo Cunha não combina com o papel moderador do partido.
Visto em retrospecto, o movimento do centro peemedebista revela o "timing" típico da velha guarda pessedista, da escola de Tancredo Neves.
Embora muita conversa deva ter corrido nos bastidores, aguardou-se com frieza a situação de Dilma chegar ao fundo do poço, o que ocorreu entre a quarta e a quinta-feira da semana passada. A aprovação da PEC 443 na Câmara mostrara que o presidente da Câmara tinha força para encaminhar o impeachment.

Então, Michel Temer entrou em cena para dizer que a situação era grave e se propôs a reunificar o país. Agora se vê que a fala do vice-presidente da República provocou onda que foi desaguar na proposta de Renan. Os historiadores dirão o quanto já estava costurado.
Em menos de 24 horas, duas das maiores entidades empresariais (as federações de indústrias de São Paulo e do Rio) lançaram manifesto de apoio à fala de Temer. "O momento é de responsabilidade, diálogo e ação para preservar a estabilidade institucional do país", escreveram os empresários em páginas inteiras compradas nos principais jornais.
De outros setores emergiram importantes manifestações de apoio. Editorial de "O Globo" afirmou que era preciso aproximar "os políticos responsáveis de todos os partidos para dar condições de governabilidade ao Planalto" (7/8).
O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, deu entrevistas no mesmo tom para a Folha e "O Globo". "Todos os participantes desse processo –políticos, Executivo, autoridades– têm de pensar grande. Precisamos ter a grandeza de buscar a convergência" (Folha, 8/8).
Foi então que Renan surgiu com os 27 pontos de conciliação, agora ampliados ao sabor da negociação em curso. Importa pouco que o conteúdo seja desconjuntado e espumante. A orientação geral é clara. Trata-se de fazer concessões à direita em troca de salvar o mandato da presidente.
A mandatária nem pestanejou. Aceitou de pronto a proposta conciliatória. Joaquim Levy passou de imediato a negociar ajustes (especialidade) na lista de medidas. Lula endossou mais do que depressa.
Resta saber o que dirão o PSDB, a esquerda (assunto para a frente em formação) e as ruas. As manifestações de amanhã e quinta serão decisivas. Mas o PMDB cumpriu a missão do centro e devolveu racionalidade ao processo. 

André Singer - Folha de S.Paulo

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