quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Cenas de chantagem explícita


A Câmara virou palco de cenas de chantagem explícita, transmitidas ao vivo pela TV. Com o mandato em risco, o deputado Eduardo Cunha ameaça abrir um processo de impeachment contra Dilma Rousseff se o PT não salvá-lo da cassação.
O peemedebista é alvo de acusações graves. Foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal, sob suspeita de embolsar propina do petrolão, e omitiu dos colegas quatro contas milionárias na Suíça, das quais agora se declara "usufrutuário em vida".
Outros deputados foram cassados por muito menos, mas Cunha usa a presidência da Câmara como arma de defesa. Escolhido por 267 colegas, ele tem o poder de acolher ou rejeitar pedidos de impeachment contra Dilma, eleita com 54,5 milhões de votos.
A chantagem foi escancarada na semana passada, quando o peemedebista declarou estar pronto para decidir sobre o assunto. O Planalto acusou o golpe, e passou a pressionar os deputados petistas a salvarem o desafeto no Conselho de Ética.
O paraense Zé Geraldo, que já havia prometido votar a favor do processo contra Cunha, disse ontem que está disposto a um "sacrifício pelo país". O recuo pegou mal, e ele tentou se explicar: "O governo está sendo chantageado. A metralhadora está na mão do Cunha. Nós seremos os culpados pelo impeachment?".
No Twitter, o presidente do PT, Rui Falcão, afirmou que o partido não deveria topar o cambalacho. Como o Planalto está no jogo, ninguém acreditou. "Ele disse isso para dar satisfação à militância", apostava um aliado no plenário. Se quisesse ser levado a sério, Falcão poderia defender a expulsão dos deputados que ajudarem Cunha, como acaba de fazer com o senador Delcídio do Amaral.
O PT tem boas razões para recusar a proposta indecente. A imagem da sigla já está à beira da morte, e uma aliança com Cunha pode servir como pá de cal. Além disso, a chantagem não é um meio confiável de negociação. Quem se submete hoje é candidato a virar refém de novo amanhã.
Bernardo Mello Franco - Folha de .Paulo

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